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COTIDIANO/AVANÇADO

Coisas mais importantes do que a sua vontade

Problemas causados por distorções nas relações de importância

Na saída da garagem de um edíficio, dois carros aguardam o portão automático abrir. O carro da frente, por algum motivo, não consegue sair, o portão automático começa a se fechar, o motorista do carro de trás fala de maneira alterado com o outro, este retruca, a discussão esquenta e eles brigam, indo terminar a noite na polícia.

Esse caso, verídico, provoca uma pergunta: o que faz com que duas pessoas percam tempo, prejudiquem compromissos e arrisquem a própria saúde brigando ao invés de buscar uma solução que atenda mais rapidamente aos interesses das partes?

A resposta passa pelo que essas pessoas consideram mais importante. Talvez elas estivessem "defendendo sua honra" ou "fazendo justiça", o que era mais importante do que elas iriam fazer saindo de carro. Certamente preservar a paz e a harmonia consigo e com o próximo não era o mais importante!

Agora considere um casal para o qual "estar certo" é mais importante do que "ser feliz". Você pode encontrar aí explicações para certas discussões infindáveis que não levam a nada exceto desarmonia.

A relação "é mais importante que" é uma das mais importantes para o nosso dia-a-dia, por vezes até para nossa sobrevivência. Algo que consideramos mais importante merece mais da nossa atenção e da nossa energia, e pode conduzir-nos até a sacrifícios que sem essa avaliação de importância não ocorreriam. Distorções nas  nossas relações de importância podem conduzir a desarmonias e problemas. Esta matéria aborda esse tema, descrevendo problemas causados por distorções nas relações de importância conectadas à nossa vontade. 

O meio ambiente - Nossa saúde depende da saúde do meio ambiente; se este estiver instável ou mal, não só nós mas todos os humanos que o habitam sofrerão as conseqüências.

Se os seres que habitam um meio fizerem tudo que tiverem vontade, e se essa vontade resultar, por exemplo, em extinção de elementos da fauna e da flora, em explosão de bombas atômicas ou em acumulação de lixo sem limite e sem reciclagem, o meio acabará se tornando desequilibrado, instável e por fim não habitável. Assim, o meio ambiente é mais importante do que nós e nossa vontade, por que sem ele não existirá nenhum "nós".

A sociedade - Dependemos uns dos outros e das coisas que fazemos juntos para viver e sobreviver. Um exemplo pode explicar a idéia mais rapidamente. Outro dia meu carro teve um pneu furado. Levei-o a um borracheiro, que fez o conserto e colocou o pneu de volta. O que o borracheiro cobrou não espelha a importância do serviço que ele presta: 7 reais (pouco mais que 2 dólares hoje). O que eu faria sem esse serviço? O que faríamos sem esse serviço? O que faríamos sem coleta de lixo? O que faríamos sem os outros?

De maneira análoga, um autor de site precisa não só dos seus leitores, mas dos outros usuários da internet, porque eles é que sustentam toda a estrutura, assim como para que uma loja continue existindo e você compre nela são importantes todos os compradores.

Assim, a estabilidade e a saúde da nossa sociedade são mais importantes do que nós, pela mesma razão pela qual o meio ambiente também o é.

Nossas decisões - Suponha que você decidiu fazer uma dieta, mas no terceiro dia desinteressou-se, o que quer dizer que conseguir o que quer não tem mais a mesma importância do que desde o momento em que você decidiu. O que vai acontecer é que nada vai acontecer com relação ao seu peso, talvez até piore se você buscar compensações para o período da dieta.

Considere também que alguém teve o filho que sonhava, mas quando deparou-se com o trabalho que dá cuidar de um filho, dos desafios que surgem e outras possíveis implicações,  aquela decisão ficou menos importante do que alguma possível vontade de "não ter problemas", por exemplo. Talvez essa pessoa tenha vontade de jogar o filho no lixo ou deixá-lo na porta de alguma casa.

Assim, quando nossa vontade é mais importante que as decisões que tomamos, muita desarmonia pode resultar. Em particular, isso pode afetar  nossa credibilidade na nossa própria capacidade de tomar e por em prática decisões.

 

Portanto, parece que o fato é que existem algumas coisas mais importantes que a nossa vontade, e manter modelos mentais distorcidos dessa realidade pode ser e é causa de problemas pessoais, sociais e ambientais.

A solução? Creio que a melhor é a integração equilibrada da nossa vontade com o que temos que e é melhor fazer. Se é mais importante, então é melhor querer. Para quem tem flexibilidade para isso, está feito. Para quem não está tendo, então tê-la para essa finalidade torna-se muito importante.

Virgílio Vasconcelos Vilela

 

DEPOIMENTOS

"Eu me interessei pelos assuntos tratado no site e li "coisas mais importantes que as suas vontades", que trata sobre distorções nas relações de importância, achei bastante interessante e válida a idéia do artigo, mas algo me incomodou um pouco (creio que isso não seja raro). O que me incomodou foi a maneira com que o que é mais importante é inserida, de uma maneira ou de outra o que é colocado como mais importante do que as nossas vontades são comportamentos socialmente aceitos, padrões socialmente corretos. Vale lembrar que esses padrões mudam com o tempo, e ainda que este tipo de comportamento por ser o socialmente indicado ele pode não refletir a consciência, o comportamento pode ser apenas um tipo de "inércia social", cidadãos agindo sobre essa inércia não causariam distúrbios aos meios que nos sustentam (sociedade, meio ambiente), seriam cidadãos tidos por normais segundo a ótica mecanicista das teorias sociais e econômicas.

Eu reconheço que haja problemas graves gerados pelas distorções nas relações de importância, mas o que deve ser posto como mais importante não cabe somente a esta visão do que é padronizado como correto. Por exemplo, no caso da defesa da honra dos sujeitos que brigam por causa do portão, segundo a sua visão a harmonia e a paz são superiores a nossa vontade, mas no caso em que um garoto que sofre com "bulling" na escola e um dia resolve que deve defender sua honra com certo grau de violência pode não ser socialmente aceito, ele pode ser visto como um vândalo pela diretora da escola mas talvez tenha sido uma lição de valores para ele e uma lição de humildade para o outro garoto. As matérias de jornal são fatos, mas há muito mais do que fatos. Um sujeito que tira a vida de outro sofre de um distúrbio nas relações de valor, mas um que parte para a violência física pode nem sempre sofrer de um distúrbio semelhante. Há algo além do que a visão do ponto de vista da produtividade nos permite ver.

Um evento fora dos parâmetros postos como corretos no artigo coisas mais importantes que as suas vontades pode significar uma relação interpessoal que pode acarretar aprendizado, o que eu sugiro que seja mais importante do que a visão mecanicista de valores inquestionáveis. Manter modelos mentais distorcidos da realidade pode ser uma grande problema que resulte em uma grande desarmonia, mas manter um único modelo fixo pode levar a ignorância que é a total desarmonia com o mundo e total harmonia com a própria prepotência. Leve em consideração que podemos sempre estar errados."

João Marcelo Ribeiro

 

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