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ENSINO

Por que EAD

Desvantagens do modelo de ensino presencial, vantagens do modelo a distância e o fator crítico de sucesso de ambas

Este artigo descreve algumas limitações do ensino presencial e como o EAD - Ensino a Distância pode lidar com essas limitações. No que eles têm em comum, é apresentada uma proposta de abordagem didática mais efetiva e mais motivadora para os alunos.

Note que o propósito aqui não é demonstrar que o Ensino a Distância é melhor do que presencial, já que o que é melhor depende de vários outros fatores, como o contexto e as características individuais dos envolvidos; são abordados alguns aspectos estruturais relevantes em um processo de decisão, com uma ênfase particular na metodologia.

Sincronismo em espaço, tempo e conhecimentos

Uma característica estrutural do ensino presencial é que professor e alunos devem estar presentes em um mesmo local ao mesmo tempo, em uma ou várias ocasiões. Pode-se portanto dizer do ensino presencial que ele é síncrono no que se refere a espaço e tempo.

O fato de o ensino presencial ser assim síncrono implica que todos os envolvidos, sejam eles professores, alunos e eventualmente outros, como por exemplo um técnico, assistente, bedel ou disciplinário, devem estar disponíveis e presentes nos horários estabelecidos, durante as sessões de que é composto um curso ou treinamento, como aulas em classe ou laboratório. Ou seja, se o ambiente não estiver disponível, a aula não será possível. Se o professor não estiver disponível, a aula não acontecerá. Se um aluno não estiver disponível, perderá a aula.

Um outro tipo de sincronismo no ensino presencial, não crítico mas desejável, é o de conhecimentos dos alunos. Se estes estiverem nivelados com relação aos pré-requisitos, o professor poderá conduzir seu planejamento normalmente. Caso contrário, ou o professor gastará tempo fazendo o nivelamento, ou irá alterar o planejamento para adequá-lo aos menos conhecedores, ou ainda despenderá tempo respondendo a perguntas sobre conteúdo não planejado. Se o professor não fizer nada disso, os alunos desnivelados não conseguirão acompanhar as atividades.

O risco de desnivelamento pode ocorrer de outra maneira: como em geral as atividades em classe são insuficientes para o domínio do conteúdo e o aluno deve fazer atividades extra-classe, quando ele não o faz pode ficar desnivelado, e nesse caso também não conseguirá acompanhar a partir de um certo ponto.

De fato, problemas de acompanhamento podem ocorrer no âmbito de uma aula apenas. Palavras são símbolos, símbolos têm significados, e uma pessoa para compreender uma comunicação deve interpretar os símbolos que ouve. Nesse processo ela despende um tempo, que pode ser maior ou menor conforme o domínio que tem do símbolo. Símbolos novos, ou novos significados para símbolos conhecidos, podem ou não ter seu significado apreendido imediatamente. Se isso não ocorrer, a compreensão de todas as comunicações posteriores envolvendo os conceitos não dominados ficará prejudicada. Considerando-se que em geral o primeiro contato do aluno com o conteúdo é em classe, a probabilidade disso acontecer não é desprezível, mesmo considerando-se que os alunos consigam manter sua atenção estavelmente na comunicação do professor.

Verificações

O conteúdo dos treinamentos tem dependências: a compreensão e aplicação de um objeto de aprendizagem requer assimilação, pelo menos em um nível mínimo, de outros dos quais depende. Muitos treinamentos presenciais ministram muito conteúdo em pouco tempo, e os alunos, não conseguindo assimilar esse conteúdo, podem entrar em sobrecarga, o que dificulta a assimilação de novos conteúdos, gerando um círculo vicioso. Esse padrão é uma das causas do assincronismo de conhecimentos.

Um professor poderia contornar algum desses obstáculos fazendo verificações de aprendizagem mais freqüentes e definindo atividades conforme os resultados que obtiver. Mas, via de regra, o professor presencial não tem flexibilidade com relação ao tempo e, embora o objetivo essencial de um treinamento seja o aprendizado por parte dos alunos, o objetivo prioritário do professor acaba sendo cumprir o conteúdo. Assim, as verificações, quando feitas, o são em periodicidade ou momento que não permitem ao professor fazer muita coisa com as informações obtidas. O que deveria ser portanto verificação de aprendizagem para guiar o professor no planejamento de ensino e os alunos no planejamento da aprendizagem, acaba sendo uma avaliação que decide a aprovação.

Os efeitos do aprendizado inadequado e incompleto podem ser maiores, em particular no ensino médio, que tem vários mecanismos de aprovação de alunos, como recuperação, conselho de classe e dependência: os alunos com aprendizado deficiente podem se tornar os desnivelados de turmas à frente, onde vão interferir negativamente no trabalho do professor e dos colegas. 

Didática

O ensino presencial se apóia muito na didática do professor, vista como a capacidade deste apresentar e trabalhar um conteúdo de forma clara e facilmente compreensível e assimilável pelos alunos. Se o professor não tiver uma didática madura e,  considerando que a didática tem um grau de subjetividade, seu estilo didático não for adequado para alguns alunos, o aprendizado fica novamente prejudicado.

EAD

No Ensino a Distância, EAD, não há necessidade de sincronismo em tempo e espaço: o aluno faz o treinamento quando pode, segundo um planejamento pessoal. Não há necessidade de o aluno estar no mesmo ambiente que o professor e os demais alunos, ou fazer as aulas no mesmo horário. O aluno não precisa necessariamente sacrificar horário de trabalho ou da família. Ninguém perde aulas. O aluno pode rever ou refazer as aulas quantas vezes quiser.

Também o professor praticamente só precisa ter didática ao elaborar o treinamento, que pode ser revisto tantas vezes quanto preciso para ser melhorado, inclusive colaborativamente, incorporando a inteligência de ensino de vários autores e também, em várias versões, os feedbacks dos alunos.

Algumas exceções ocorrem quando o treinamento EAD tem atividades síncronas, como um tutor disponível para bate-papo na internet ou provas presenciais. Mas a maioria das atividades síncronas em EAD é complementar e não obrigatória, e as obrigatórias são definidas com antecedência suficiente para o aluno se planejar adequadamente.

Um aspecto a ser considerado é a disciplina do aluno: pode-se argumentar que no ensino presencial os alunos tendem a estar mais comprometidos, há pessoas que inclusive preferem o presencial para terem mais disciplina. Talvez a pergunta mais essencial aqui seja: se uma pessoa está fazendo um treinamento sem motivação suficiente para fazê-lo, por que o faz? Achamos que treinamentos devem ser ministrados para quem vai utilizar o conteúdo, vai aplicá-lo em algum objetivo. Isso é o que fornecerá sentido à pessoa para dedicar-se ao treinamento.

Além da não percepção de valor no conteúdo do curso, a desmotivação pode ser causada pela não-percepção de progresso. Veja a próxima seção para uma alternativa para lidar com essa possibilidade.

Considerações metodológicas

Há um elemento no ensino que pode tornar qualquer formato inefetivo. Nesta seção investigamos alternativas didáticas aplicáveis tanto ao ensino presencial quanto ao EAD.

Considere um treinamento sobre o Power Point. Para que uma pessoa produza e use uma apresentação, na forma de um arquivo PPT ou PPS, deve saber várias coisas.

- o produto a ser elaborado: estrutura (slides), controle da apresentação, recursos auxiliares (canetas, navegador de slides);

- estrutura, interface e recursos do programa;

- como usar os recursos do programa para elaborar uma apresentação;

- ambiente: Windows, Windows Explorer, noções de hardware.

E para fazer apresentações melhores e com mais produtividade, convém também conhecer:

- Outros programas, como editor de imagens.

- Outros recursos, como internet, serviço de pesquisa.

Em particular, os recursos do programa envolvem muitos objetos de aprendizagem: operações com arquivos, slides, texto e imagens, formatação, animações e transições, além de recursos de diagramação, como rodapés e slide mestre, e navegação, como botões de ação e hyperlinks.

Elaborar uma apresentação pode incluir também diretrizes para estruturar o texto de slides, combinar texto e ilustrações e oratória, entre mais possibilidades.

Esses elementos formam o conteúdo do ensino, é o que é ensinado ou que pelo menos pode ser ensinado, e que quando bem estruturado se torna um conjunto de objetos de aprendizagem[1].

Um segundo elemento do ensino é como ensinar: as estratégias de apresentação e exercício, os recursos e sua utilização, a distribuição de conteúdo e conseqüente planejamento.

Há pelo menos duas alternativas metodológicas para o planejamento do ensino. Uma é focada no que existe e nas possibilidades decorrentes. Essa abordagem costuma resultar em muitas descrições:

 

“O Power Point é um programa para apresentações... A área de trabalho do Power Point tem as barras, a área de edição... O menu Arquivo tem os itens Novo, Abrir, Salvar....”.

 

Outro enfoque é em resultado e aplicação. Por exemplo, mostra-se uma apresentação simples e conduz-se o aluno a executar os procedimentos que vão produzir a apresentação; depois mostra-se como preparar e fazer a apresentação.

É muito comum o enfoque descritivo de possibilidades. No caso do Power Point, já vimos um curso de banca e um livro sobre mapas mentais com um “roteiro passo-a-passo” com essa abordagem. Um curso na Web sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal descreve a lei e seus artigos, um por um, falando das implicações de cada um.

Ocorre que, na prática, o aluno não vai aplicar aqueles conhecimentos na seqüência em aparecem. Ele terá algum objetivo, algum resultado a obter, e terá que identificar os conhecimentos relacionados, descobrir os que se aplicam no contexto da sua atividade e combinar esses conhecimentos com outros para conseguir atingir o resultado. Isso é semelhante ao planejamento de uma viagem: primeiro define-se o destino, depois formula-se um plano para se chegar lá, partindo-se das possibilidades da localização atual.

Tipos de didáticas

Assim, identificamos dois tipos básicos de didática: a que parte dos objetos de aprendizagem, mais descritiva, e a que parte dos resultados e trabalha os objetos de aprendizagem requeridos para obter os resultados. Chamamos àquela didática horizontal, e a esta didática vertical. Esses nomes derivam da forma de percorrer o conteúdo, via de regra com a estrutura de uma árvore com tópicos e subtópicos, estando no alto os objetos de aprendizagem e na parte de baixo tem as aplicações do conteúdo. Percorrer a árvore na horizontal é detalhar os tópicos, enquanto que percorrê-la na vertical é seguir em direção às aplicações.

Um curso do Power Point usando didática vertical poderia começar apresentando na primeira iteração uma apresentação simples, em seguida os procedimentos para elaborá-la e então como executá-la. O aluno primeiro conhece a apresentação (o produto) e como usá-lo – o destino – e depois aprende como elaborar o produto – o caminho. A próxima iteração poderia incluir imagens. A seguinte formatação, depois animações.

A didática horizontal pode passar horas em descrições sem um contexto de aplicação. Já a didática vertical pode começar com uma aplicação simples, mas que leva o aluno a obter um resultado. Sucessivamente as aplicações vão se tornando mais complexas; a didática vertical é eminentemente iterativa, enquanto que a didática horizontal tem estrutura seqüencial.

Um elemento metodológico importante aqui é que, na didática vertical, o objetivo inicial é o aluno dominar um processo de trabalho, que depois pode ser enriquecido com mais opções, cada opção é claro servindo ou contribuindo para a obtenção de um resultado.

Desta forma, a didática vertical é muito mais motivadora para o aluno, que percebe resultados muito mais rapidamente e assim percebe valor no conteúdo desde o início. E uma vez que o aluno esteja estruturado para produzir, a abordagem horizontal pode ser usada, embora sempre com um olho na aplicabilidade, isto é, novos conhecimentos são inseridos em um processo de obtenção de um resultado.

Essas considerações metodológicas acima aplicam-se a ambas as estruturas de ensino, presenciais e a distância: o ensino será arrastado, chato e improdutivo com uma didática horizontal e mais dinâmico, efetivo e motivador com uma didática vertical.

Virgílio Vasconcelos Vilela


[1] O termo ‘objeto de aprendizagem’ foi emprestado pelo ensino da área de desenvolvimento de sistemas e tem sido usado para designar peças de software que visam trabalhar conteúdos específicos com os alunos, como por exemplo uma animação do Flash. No entanto, o termo ‘objeto’ na área de sistemas é conceitual, enquanto que no ensino é concreto, e assim foi usado inadequadamente. O termo mais apropriado para as peças de software seria ‘componente de aprendizagem’. Aqui usamos o termo objeto de aprendizagem para designar uma unidade de conteúdo que pode ser ensinada, aprendida, verificada e aplicada.

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