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ESSENCIAIS

Quem é você? Seus múltiplos níveis de identidades

Uma visão geral das suas capacidades e das oportunidades de expandir sua inteligência

Ao ler a pergunta do título acima, talvez você já tenha, mesmo que sem querer, pensado em uma possível resposta. “Sou o Fulano ou a Fulana”, pode ter sido. Se eu continuasse perguntando “Quem é você?”, que outras respostas você teria? Vejamos alguns exemplos de respostas típicas:

- Eu sou a mãe do Fulano ou da Fulana (pai, irmão, tia, esposa).

- Eu sou bancário (programador, professor, estudante).

- Eu sou alguém que busca a paz de espírito (tem um sonho).

- Eu sou alguém que quer fazer diferença no mundo.

- Eu sou uma pessoa tímida (insegura, corajosa, preocupada, feliz).

- Eu sou o dono de um carro (apartamento, fazenda)

O verbo ser, para esse fim, costuma ser usado de diversas maneiras: papel social (mãe, profissão), estado (timidez, felicidade), propósito (paz). Mas esse verbo traz em seu significado uma noção de permanência. Se eu sou, fui, estou e serei. Quando dizemos que uma criança é “malcriada”, podemos esperar que ela vá cometer malcriações no futuro, correto? Claro, há exceções; se eu mudo de profissão, deixo de ser algo para ser outra coisa.

Só que, se há possibilidade de mudança, o verbo ser pode não ser o mais apropriado. Considerando esse verbo na sua acepção de permanência, quem somos na verdade? O que temos de mais permanente que papéis sociais, características pessoais e posses? O que fomos, somos e seremos independentemente de qualquer coisa? 

Pense em um computador. O que o define como um computador? Não é o sistema operacional; este pode ser o Windows, o Linux e outros. Também não são outros programas instalados, que podem ser muito diferentes de um computador para o outro. O que define um computador é ter um processador, memória, periféricos de entrada e saída como teclado e monitor e outros dispositivos, organizados de uma certa maneira. Mesmo sem executar programas, mesmo desligado, um computador continua sendo um computador, esta é a sua natureza. O que define o computador na verdade é o hardware.

E uma bicicleta, o que a caracteriza? Chassi, guidom, rodas, catracas, pedais, banco e outros componentes, também dispostos em uma certa configuração. Se alguém anda na bicicleta ou não, isso é irrelevante para percebermos que é uma bicicleta. Novamente, é a estrutura de componentes (desenho, materiais) e sua organização (como os componentes se relacionam e interagem) que determinam o que ela é.

Portanto, uma definição mais precisa daquilo que é e que espelhe a noção de permanência, é dada pelo “hardware”, que por sua vez determina uma “capacidade instalada” ou potencial de utilização. Computadores processam informação, bicicletas conduzem uma pessoa, carros também, de uma forma diferente. Lápis servem para escrever. Alguns “hardware” têm mais aplicações, como o clipes (mais de 20 mil já descobertas). Mesmo que ninguém use ou se beneficie da capacidade instalada, o objeto continua sendo o que é.

Suas capacidades

Então, voltando a nós, antes de sermos pais, profissionais e outras coisas, somos a “capacidade instalada” com que viemos ao mundo. Mesmo que não usemos essas capacidades, o fato de dispormos delas faz com que sejamos o que somos. E quando nascemos, quais são essas capacidades de que já dispomos?

A primeira é a percepção: a capacidade de receber estímulos visuais, sonoros e táteis e de prestar atenção.

A segunda capacidade é a de memorizar: somos capazes de armazenar de alguma maneira o que percebemos, para uso posterior.

A terceira capacidade é a de pensar, que serve para várias coisas. Por meio do pensamento, processamos os estímulos visuais, sonoros e táteis que recebemos e os interpretamos. Pensando, nos lembramos de algo que está na memória para algum propósito. Por exemplo, o que significa uma placa redonda na rua onde está escrito “PARE”? Pensando é que reconhecemos e interpretamos aquelas vibrações do ar chamadas de linguagem falada. Pensando é que determinamos se uma sensação no dedão do pé esquerdo merece maior atenção ou não. Pensando, organizamos nossas experiências, adquirimos conhecimentos, criamos formas de ver o mundo. Também pensando é que determinamos o que vamos fazer na vida (sonhos, projetos, objetivos em geral), as estratégias para conseguir o que queremos e limites para o que podemos fazer (como valores e permissões). Pensando, aprendemos, e pensando usamos o que aprendemos para fazer o que queremos e para aprender outras coisas, que por sua vez podem ser usadas para aprender mais, e assim por diante. Nossa capacidade de pensar pode estar organizada em estratégias de pensamento, que são roteiros como o que aprendemos na escola para fazer uma operação de soma ou raiz quadrada ou para deduzir algo a partir de duas afirmações.

Uma outra capacidade inata é a de escolher. Podemos perceber e pensar, pensar em possibilidades e novamente pensar sem nada decidir; por isso é que consideramos a escolha como uma capacidade diferenciada. Entre o pensamento e a decisão deve acontecer algo; esse algo é o ato de escolher que algo vai ser feito, que algo vai acontecer.

Outra capacidade ainda que temos é a de usar o corpo, nas formas de agir e falar. Agindo, vamos de um lugar a outro, conduzimos nossos veículos, nos alimentamos. Falando, nos comunicamos, pedimos, elogiamos, reconhecemos, nos expressamos. Agir e falar estão diretamente relacionados ao ato de escolher: escolhemos agir, escolhemos falar.

Outra capacidade com que todos já nascemos é a de ter emoções e sentimentos. Todos somos capazes de sentir prazer, amor, dor, angústia, medo e coragem. Sentindo, atribuímos importância, definimos o que será mais importante para nós. O que vamos sentir depende de muitas coisas, mas a capacidade em si está lá, disponível para manifestação ou não.

Temos também a capacidade de desenvolver e aprender habilidades. Uma habilidade não é algo em si, e sim o resultado da integração organizada de percepção, pensamento, corpo e escolha para obter um ou mais resultados. Caminhar, por exemplo, é uma habilidade que integra a percepção do ambiente externo com pensamentos avaliativos do progresso e escolha dentre possibilidades, direcionados para chegar em algum lugar escolhido: passo por aqui ou por ali? A que velocidade? De que maneira vou superar aquele obstáculo? Outra habilidade que todos temos é a de falar. Dialogar, por exemplo, envolve uma complexa sincronização entre perceber estímulos sonoros e visuais, interpretá-los, lembrar-se de experiências relacionadas, elaborar uma resposta e expressar essa resposta de uma forma inteligível, seguindo regras de sintaxe cheias de exceções e em certos tons de voz, tudo isso guiado por objetivos, valores e intenções, como expressar-se de forma educada, comunicar as idéias efetivamente para ser compreendido, convencer a outra pessoa de alguma coisa ou conduzi-la a fazer algo ou ainda simplesmente passar uma mensagem de apreço ou de crítica.

A habilidade, portanto, é a grande unidade de ação da inteligência, e portanto de aprendizado. Sem habilidade, conhecimentos de nada servem. Uma habilidade bem aprendida é executada com elegância, fluência, rapidez e efetividade. Uma vez que dispomos de habilidades, podemos aprender, criar, comunicar e relacionarmo-nos.

Um efeito colateral da capacidade de desenvolver habilidades é o hábito. Repetir uma seqüência de comportamentos é uma dos fatores na instalação de uma habilidade, e quando repetimos certos comportamentos sistematicamente, há a possibilidade de eles se tornarem integrados, fluentes e fáceis como uma habilidade. A principal diferença entre uma habilidade e um hábito é que este está dissociado de um propósito ou intenção, sendo disparado por algum elemento de espaço e tempo, como sentir fome ao meio-dia, acordar e tomar um café e certos gestos automáticos. Se não há escolha quanto ao hábito, ele se torna uma compulsão ou uma fobia; uma reação automática e previsível. Em alguns casos, os efeitos dos hábitos são benéficos e se tornam uma qualidade. Em outros, o hábito pode ser ou se tornar indesejado, como por exemplo quando a realidade muda e o hábito não é mais suportado no novo ambiente. O fato mais importante aqui é que todos temos a capacidade de desenvolver habilidades e hábitos.

Um conjunto de habilidades e hábitos forma uma competência. Um jornalista competente é hábil em várias coisas: escrever e comunicar idéias. Um professor também. Um músico pode ser extremamente hábil na execução e pouco hábil na criação. De maneira geral, uma competência envolve vários tipos de habilidades, incluindo relacionamento e comunicação.

Afinal, quem é você?

Quem é você? De uma forma mais profunda do que ser algo na sociedade ou ser algo relacionado às suas características pessoais, você é de fato um ser humano que já nasceu capaz de perceber, memorizar, prestar atenção, pensar, escolher, agir, falar e sentir. O fato de podermos ser tão diferentes uns dos outros, seja em propósitos, em opiniões, forma de pensar e o que consideramos importante, além de nos expressarmos de formas diferentes, não contradiz o fato de que somos iguais na “capacidade instalada”, apenas fazemos escolhas diferentes, conforme as experiências que tivemos e o que se tornou importante para nós.

Assim, podemos dizer que você é um “percebedor” do mundo, um pensador, um "sentidor”, um tomador de decisões, um desenvolvedor de hábitos e habilidades, um agente de intervenção no mundo através das suas ações e da sua comunicação. Tudo isto caracteriza sua identidade mais central e mais profunda como a de um ser inteligente. Você ou outros podem não gostar ou estar gostando de algumas coisas que percebe, pensa, faz, ou sente, mas todas as suas capacidades inatas estão aí disponíveis. A analogia com o computador também vale aqui: ele pode não estar fazendo algo útil ou que nos agrade, mas, se não tiver defeitos no hardware, está funcionando perfeitamente, executando com perfeição o que está programado. 

E como um ser inteligente, suas ações estão essencialmente relacionadas a usar as suas capacidades inatas para ter experiências, aprender com elas, definir objetivos e agir para alcançá-los. Uma inteligência não se contenta em meramente observar as coisas acontecerem; ela define o que quer que seja diferente e age para concretizar sua intenções, seja para mudar a si mesma (como por exemplo estudar), gerar e influenciar outras pessoas (como ser mãe, casar e ensinar) ou modificar o meio ambiente (como construir).

Mas uma inteligência tem um grau de liberdade; se o "supercomputador" será usado para jogos, navegar na internet, mudar o mundo ou vai ficar encostado, isso é o dono que escolhe.

Ser social: seu segundo nível de identidade

Uma vez que é um ser inteligente, pode sair por aí. alterando o fluxo que as coisas teriam sem você. Agora sim, neste nível você é ou pode ser aquelas coisas que mencionamos. Você não surgiu do nada, tem uma mãe, o que o caracteriza como um filho. Se sua mãe teve outros filhos, você é um irmão. Quando arruma um emprego ou atividade, se torna um profissional. Seu segundo nível de identidade o caracteriza como um ser social, o que quer dizer que você depende de outras pessoas para existir, sobreviver e fazer o que quer. Exceto se você estiver vivendo em uma ilha deserta, você depende de sua sociedade; se esta deixar de existir, você também deixa. E sua sociedade andar mal como um todo, você também sofrerá conseqüências. Há uma interdependência tão forte entre os integrantes de uma sociedade que mesmo uma função social não muito valorizada como a coleta de lixo, se não for executada, pode provocar o caos. 

Cada objetivo que você tem depende de outras pessoas: se quiser aprender, depende de escolas que outros estabelecem e mantém. Se quiser aprender sozinho, depende de recursos e conhecimentos que outros produziram. Para poder ajudar alguém, fazer o bem, tem que haver alguém a quem fazê-lo. Se quiser ser um herói, depende de uma situação propícia envolvendo outras pessoas, como um incêndio ou uma enchente. Se seu propósito maior é vencer na vida com um negócio próprio, terá que contar com outras pessoas que comprem seus produtos ou precisem dos seus serviços. Mesmo para exercer seu papel de comprador que quer realizar um sonho de consumo, você depende das outras pessoas que compram na loja, porque se só você comprasse lá, a loja fecharia as portas. Isso vale para um carro, um simples sorvete e a internet, como você já deve ter percebido. 

Seu segundo nível de identidade, portanto, inclui vários papéis sociais, alguns permanentes, como pai e mãe, filho ou filha, outros de duração variável, como profissional e amigo, e outros dinâmicos ou ocasionais, como comprador e passageiro. Nesses papéis, você influencia o rumo dos acontecimentos, seja com o que diz ou não diz, seja com o que faz ou deixa de fazer, seja somente estando em algum lugar. 

Ser ambiental: o terceiro nível

Além de sermos seres inteligente vivendo em sociedade, você, eu e todos vivemos em um ambiente, do qual são extraídos alimentação, água, ar, materiais e até beleza para apreciarmos. Somos também dependentes do nosso meio ambiente: se ele for mal, a sociedade e cada um de seus integrantes também irá mal. Esse é o nosso terceiro nível de identidade: somos seres ambientais. Interagimos com o meio ambiente, influenciando-o e ele a nós. 

Nosso papel essencial em relação ao ambiente é o de agentes modificadores, seja individual ou coletivamente, seja usando os recursos, alterando, construindo ou destruindo.

Em síntese

Seu equilíbrio, bem-estar e realizações, portanto, dependem do equilíbrio e do bem-estar daquilo do qual você depende, a sua sociedade e seu meio ambiente. Como as outras sociedades também se afetam mutuamente e ao meio ambiente, no fundo somos todos afetados pelas escolhas que muitos seres inteligentes do mundo todo estão fazendo.

Veja no mapa mental abaixo as idéias essenciais de cada nível de identidade, com alguns dos exemplos.

Este site e e você

Se você é um ser inteligente, isto significa que tem todas aquelas capacidades e, se detalharmos um pouco, mais algumas. Este site se aproveita desse fato: cada capacidade que você tem abre oportunidades de sua utilização para algum propósito. Você é capaz de ler, então usamos um meio escrito. Você é capaz de pensar, portanto sugerimos estratégias de pensamento. Você é capaz de imaginar e o que imagina pode lhe afetar, portanto sugerimos formas úteis de usar a imaginação. Você pode aprender conceitos e usá-los depois para lhe inspirar em suas decisões, portanto temos conceitos juntamente com idéias para sua aplicação. Você é capaz de definir objetivos e tomar decisões, portanto sugerimos formas de fazê-lo melhor. Você é capaz de criar, portanto sugerimos estratégias para você usar essa possibilidade, se for algo que você queira. Várias dessas capacidades estão detalhadas nesta seção. Cada capacidade que reconhecemos ter abre as portas para sua utillização para algum propósito. E é por isso que um requisito básico para se beneficiar mais deste site é... querer algo, seja para si ou para outros. 

E uma vez que você também é um ser social, se relaciona, se comunica e às vezes lidera. Isto requer habilidades apropriadas. Você vai encontrar inspirações variadas para relacionamento, comunicação e liderança na forma de conceitos, estratégias e casos.

Para concluir, tem uma coisa para a qual não é preciso habilidade. É a conscientização dos nossos três níveis de identidade, porque temos as oportunidades para isso a cada momento: quando temos consciência de nós mesmos ou de algo em nós, quando estamos e interagimos com outras pessoas e quando vemos o verde e o azul, sentimos o calor do sol ou a água da chuva na pele e a cada vez que respiramos.

Virgílio Vasconcelos Vilela

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