BOLETIM

Saiba as novidades do site.

Seu e-mail:

 

OBJETIVOS & DECISÃO

Por que fazemos bagunça

De fato há um processo de decisão por trás

Em certo momento você nota que a superfície da mesa está cheia de papéis em grau de desordem alto o suficiente para você não achar algo importante. Ou quem sabe é o quarto que está bagunçado. Talvez também a sala. Sua bolsa? Seus e-mails? Seus arquivos?

Talvez você olhe suas desordens e conclua que "sou bagunçado", "sou bagunceiro" ou algo do gênero. Bem, nós vamos mostrar aqui que essa conclusão é uma miragem; há um sentido por trás das bagunças que fazemos, mais especificamente ela é parte de um processo de decisão. Com o limão da bagunça vamos fazer uma limonada de autoconhecimento.

Fundamentos

Considere que você vai tomar banho. Em sua mente está um filme da parte essencial da ação: você, nu, sob o chuveiro, a água caindo, você se esfregando, lavando o cabelo, eventualmente dedicando alguns momentos apenas para desfrutar daquela deliciosa água naquela deliciosa temperatura.

O banho requer uma preparação: você tem minimamente que ir até o banheiro e tirar as roupas. Há banheiros que têm em um cesto próprio, mas muita gente simplesmente a joga no primeiro local que encontrar. Essas roupas, acredite ou não, são a chave para o que vamos descrever a seguir: as roupas que você tira para tomar banho e o que você faz com elas se não for vesti-las novamente.

Primeiro, você não toma banho só por tomar; você tem razões, motivos. As razões podem resultar de vários fatores, que se combinam. Um é o hábito; você toma banho todo dia. Outra é a necessidade: você está ou se sente sujo. Outra ainda é que você pode ter algo para fazer depois que requer que você esteja limpo e cheiroso: um encontro, uma festa, talvez seja para dormir melhor; uma finalidade. Quanto mais fatores a favor se combinarem, mais vontade e disposição você terá para tomar o banho, descontado algum fator inibidor, como um compromisso.

Assim, o banho pertence a um fluxo de sua vida, no qual algo acontecerá depois. E o que representam as roupas no seu processo de tomar banho? Ora, você toma banho nu, e as roupas de fato são algo a ser tirado de você e do caminho para que o banho possa acontecer. Para o processo do banho, as roupas são um resíduo, o que sobra. Em outras palavras, as roupas não são relevantes para o fluxo que você está seguindo.

E porque então que alguém se daria ao trabalho de guardar roupas? As razões são distintas. Por exemplo, outra pessoa pode usar o banheiro depois e você guarda as roupas em consideração a ela. Ou você gosta da casa arrumada. A motivação pode ser negativa, no sentido de afastamento: se você não guardar a mãe ou a esposa vão lhe encher o saco, e você guarda as roupas para evitar isso.

Assim, se você não tiver pelo menos uma razão para guardar a roupa - e o banho atual não a fornece -, não o fará. As roupas sujas são importantes para outro fluxo, não para o do banho em si.

Outro exemplo no mesmo contexto é a toalha molhada: porque você a põe para secar, já que não precisa mais dela? Porque você sabe que irá tomar outro banho amanhã e vai precisar dela seca. A toalha molhada é também um resíduo do processo atual, mas você faz algo com ela porque tem a visão de outro fluxo em que ela será útil.

O que chamamos de bagunça, portanto, é composta pelos resíduos das nossas ações em direção a objetivos, tais como:

- sacos de pão vazios;

- talheres e louça suja;

- papéis de rascunho já usados;

- livros e outros materiais já estudados;

- roupas sujas.

O caso dos livros e materiais de estudo (assim como outros) tem a mesma estrutura da toalha: quando você termina de estudar, você os guarda porque pretende usá-los novamente; por agora já não servem mais. Se você não tiver a visão da próxima sessão de estudo e talvez se não antecipar possíveis dificuldades depois, vai deixá-los onde estiverem. A menos, claro, que estejam atrapalhando algum outro fluxo de objetivo, e você os põe no primeiro lugar que encontrar. Em outras palavras, você os tira do caminho.

De passagem, note que outros tipos de coisas esquecidas se parecem com resíduos, como deixar uma lâmpada acesa ao sair de um cômodo: ela já foi útil e não é mais, e lembrar-se de apagá-la sem ter o hábito requer alguma motivação com outra referência, como não desperdiçar, economizar ou evitar que alguém reclame no seu ouvido.

Porque então bagunçamos?

A síntese então é que a bagunça ocorre quando não temos visão e motivação suficientes para lidar com os resíduos do que fazemos. Pode envolver também valores: quando alguém na rua produz um lixo, pode jogá-lo em uma lixeira se achar importante dar uma contribuição. Pode também envolver gerência de riscos: joga na lixeira se tiver medo de algo ruim acontecer se não o fizer.

Assim, se você acha que faz bagunça porque se considera bagunçado, bagunceiro, desorganizado, preguiçoso, reafirmamos que todos esses rótulos são miragens: de fato, ou você não vai precisar de algo, ou não tem um filme do futuro em que a coisa é necessária, ou tem essa visão mas avalia que não é importante, ou segue um valor pessoal, ou está prevenindo algum risco. Ou combinações desses fatores. Se ainda restar alguma dúvida, faça um teste: verifique como ficaria sua motivação se você, mantendo suas coisas organizadas por uma semana, fosse - com absoluta certeza - ganhar um milhão de dólares. Ou o que você mais quer na vida.

Só tem um porém: as crenças-miragem por vezes aparentam ser tão reais que condicionam nossas escolhas, e pensamos coisas como: "Ah, sou bagunçado mesmo, não vou arrumar". Pelo menos ter consciência de que é miragem já ajuda a ter mais opções. E ter consciência de que tudo é parte de um processo de decisão mais ainda: podemos decidir caso a caso o que fazer. Mais e melhor consciência, mais e melhores opções.

Virgílio Vasconcelos Vilela

Editor deste site

 

Indique esta página para um amigo

Veja também

Cartoons sobre bagunça:

http://minhalingua.files.wordpress.com/2008/04/tira10.gif

http://coisasdolang.files.wordpress.com/2008/05/bagunca.gif